DO MESSIANISMO FALIDO AO INDIVIDUALISMO DEMISSIONÁRIO:
Leitura, escrita e constituição dos sujeitos leitor e escritor
na ficção de Moacyr Scliar e Cristovão Tezza. (Tese de doutorado)
Esta tese vincula crítica literária e filosofia, refletindo sobre o messianismo utópico falido e o
individualismo demissionário em personagens-leitores e personagens-escritores constantes nos
romances de Moacyr Scliar e Cristovão Tezza. Ela identifica nos personagens de Scliar o
messianismo utópico, estes levados à desistência ou à loucura, prestando-se ao riso e à
zombaria, numa forma irônica, por parte de seu autor, de fazer constar as utopias como discursos
falidos, mas não menos necessários para quem busca um outro mundo possível, através da
revolução do mundo presente. Identifica igualmente nos personagens de Tezza o individualismo
demissionário, reduzidos à indiferença, à desesperança, ao cinismo, à misantropia e à inércia
em relação ao engajamento nas causas sociais. Para tanto, a pesquisa se pautou por recobrir o
papel que o leitor tem diante de livros que lê e o papel do escritor diante dos textos que escreve
ou quer escrever, ambos dentro das coordenadas circunstanciais de sua vida privada e pública.
De Scliar, foram tomados sobretudo os romances Eu vos abraço, milhões, O exército de um
homem só, A majestade do Xingu, A mulher que escreveu a bíblia, O centauro no jardim, Mês
de cães danados, Manual da paixão solitára, Os vendilhões do templo, Os voluntáriios, A festa
no castelo. De Tezza, a atenção se volta principalmente para os romances Trapo, O professor,
A suavidade do vento, O fantasma da infância, Juliano Pavollini, A tensão superficial do tempo,
A tradutora, Beatriz e o poeta, Aventuras provisórias, Um erro emocional,O filho eterno. Sendo
uma tentativa de compreensão dos atos da leitura e da escrita que busca exemplos em
personagens fictícios, ela convocou o apoio dos teóricos da Literatura, como George Steiner,
Tzvetan Todorov, Émile Faguet, Vincent Jouve, Julien Benda, Isaiah Berlin, Terry Eagleton,
Ricardo Piglia, Michele Petit, Ayn Rand, Regina Zilberman, Umberto Eco, Wolgang Iser,
Octavio Paz, Roland Barthes, entre outros; e, em filósofos, como Friedrich Nietzsche, Sigmund
Freud, Michel Foucault, Judith Butler, Immanuel Kant, Karl Marx, Michael Löwy, Hannah
Arendt, Fredric Jameson, Ernst Bloch, Theodor Adorno, Paul Ricoeur, Roger Scruton, Emil
Cioran, Michela Murgia, Donatela Di Cesare, Enzo Traverso, entre outros. A confluência de
teóricos da Literatura com os pensadores da Filosofia serve para mostrar os procedimentos de
efetivação das teorias utópicas e as crises das utopias a partir de seus resultados e como isto
tem servido de álibi para a desistência de engajamentos e para novos levantes de detratores das
mesmas. Esta tese também pondera sobre o surgimento do fascismo nas sociedades
contemporâneas nas diversas nações do planeta e acredita que a Literatura se apresenta como
uma leitura antecipada dos tempos sombrios.
FREITAS, José Carlos de. DO MESSIANISMO FALIDO AO INDIVIDUALISMO DEMISSIONÁRIO. UNIRG - UNIVERSIDADE DE GURUPI - 2025. Disponível em https://repositorio.unirg.edu.br/documento/198. Acesso em 20/08/2025.